sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Sacrifício

Sacrifício

Vinicius S. Reidryk and Regina castro



Aquelas ruas não eram nada seguras, nas vielas prostitutas se proliferavam desmedidamente, o fio da navalha corria solto, tanto com marginais quanto com crimes sem solução e esses continuavam no oculto, engavetados em estantes empoeiradas das delegacias de polícia. Gritos não eram raros de serem escutados, às vezes as próprias prostitutas amanheciam inertes, jogadas na sarjeta, elas que já conheciam o local e tinham cada esquina por moradia... A morte buscava sem distinção de raça ou credo, mas logo outra assumia o lugar, o lucro não podia parar.
A morte encoberta por um traje elegante e palavras finas e mais uma era arrastada de boa vontade ficando lá, sem marcas nem manchas, pareciam dormir e logo o sujeito dobrava a esquina, o trabalho estava feito, o sorriso cínico dava o ar do dever cumprido, dobrava em algum ponto da rua sumindo na penumbra.
Os legistas apareciam, catavam restos do que um dia foi alguém e mais um caso ficava sem solução, isso já estava deixando os detetives loucos, esse caso já estava indo longe demais, os policiais pareciam baratas em cima da podridão que a cidade estava se tornando, correndo para todos os lados, e de longe alguém divertidamente, observava.
Na igreja havia apenas um padre, pois os outros desistiram de continuar a dar a palavra de Deus num lugar tão obscuro, maltratado. Segundo eles nada podia ser feito, então não queriam pôr riscos as suas vidas mesmo acreditando que um dia isso finalmente chegaria ao fim.
João era um padre calmo e preocupado, costumava descobrir sozinho o que estava acontecendo na cidade em que foi criado. Ficava diante do altar rezando, entrando em contato com Deus e sendo correspondido.

- “Ele pagará por seus atos!” – veio uma voz audaciosa em sua mente.

Poucas pessoas freqüentavam a igreja, muitas haviam desacreditado a palavra de Deus por terem perdido membros da família. - E agora o que um padre poderia fazer numa cidade praticamente fantasma? – pensou.
Nada que uma pesquisa não ajudasse. Voltou para o quarto e a sua investigação sobre as mortes e quem estava por trás disso foi iniciada. O padre gostaria que a cidade voltasse a ser como em tempos atrás, tempos de infância...
Foram sete vítimas até agora, incluindo um padre.
Tudo transcorria sem regras, uma terra sem leis, somente um padre e todo um corpo policial e o assassino parecia brincar de bandido e mocinho como em tempos de criança... Só que desta vez, real...
A igreja agora muda só recebia as preces do morador que insistia em não abandoná-la, o padre João, ele ainda tinha fé que tudo mudaria... Mas suas investigações não estavam surtindo efeito... Alguém ainda brincava de Deus nas ruas sombrias, brincava de Deus ou demônio, sentia prazer pelo que fazia, e pelo modo dele pensar talvez, fazia com a perfeição de um artista.
Pesquisava em sites e lia o jornal todos os dias. Continuava pensando quando e onde seria que este assassino voltaria a atacar.
O padre tinha o pensamento firme, iria encontrar o culpado e esse herege pagaria com certeza por seus atos... O suor descendo por suas têmporas e as lágrimas encharcando sua batina, as mãos juntas e as orações ainda mais fortes em seu coração quase cansado...
E um sussurro escapou por entre seus lábios...

- Deus, ajude-nos, por favor!

Ao anoitecer, percebeu que não era mais tempo de ficar em casa, refugiado num lugar que pensava todos os dias estar a salvo.
Os ataques aconteciam somente à noite, sabia que se quisesse alguma pista, teria de sair dali e enfrentar o medo da escuridão.
Com roupas normais percorreu ruas, entrando e saindo de vielas cada vez mais estreitas, o odor era algo que jamais esqueceria, parecia esgoto a céu aberto e aquelas mulheres, oferecendo seus corpos a quem passasse, algumas delas com aspecto doentio... Padre João perguntou se tinham visto algo estranho por aqueles dias, mas ninguém parecia se importar... – A que ponto a raça humana chegou, Senhor meu Deus... – pensava o padre a todo o momento.
Ao longe avistou uma sombra, alguém se aproximava... O indivíduo chegou perto de uma garota, esta sorrindo abriu o decote ainda mais, o padre ficou olhando ao longe, o homem chegou mais perto da garota e abraçou-a esta começou a beijá-lo, o estranho estava de costas e o padre nada via dele, nenhuma parte sequer de pele, com cuidado João foi andando, o estranho levou a mulher para o beco ao lado, o padre congelou, algo naquele ser deixava-o preocupado, não demorou muito tempo e um vulto saiu do beco rapidamente, ao ficar frente a frente com o padre, parou e ficou a fitá-lo, padre João paralisado... Não conseguia mover um centímetro, estava preocupado com a mulher que não havia saído, mas aquele olhar congelou sua espinha, um olhar de pura crueldade, um olhar surreal, ele nunca tinha visto nada igual em toda sua vida e olha que ele já tinha muita experiência no ministério, já tinha passado por muita coisa percorrendo os caminhos de Deus, mas aquilo era uma provação que nunca tivera antes, o ser entortou a cabeça de lado olhando-o fixamente, seus olhos brilhavam na escuridão projetada dos prédios atrás de si, antes dele sair João jurou ter visto um sorriso, algo monstruoso... Um sorriso que fez seu coração pular, logo depois o estranho saiu deixando o padre ainda inerte olhando o nada, passou alguns segundos e João conseguiu sair de seu pavor e foi até a mulher, demorou a encontrá-la, ela estava no fundo do beco, deitada, graciosamente colocada em cima de uns sacos de lixo, como se estivesse em seus aposentos, ele tentou ver o pulso dela, mas não conseguiu, chegara tarde, ela jazia ali e nunca mais levantaria, nunca mais veria a luz do dia. O padre curvou a cabeça chorou e deu a extrema unção à moça, ela estava muito pálida e os lábios arroxeados...
João caiu de joelhos e as mãos juntas na frente do rosto, pedia por Deus, pedia por mais ajuda, achava que não daria conta sozinho... Quando procurou tirá-la do lugar viu que do seu pescoço um filete de sangue ainda fresco escorria por seu busto, no chão, dentro da pequena poça um bilhete... "Pare de me seguir... ou encontrará seu destino e prometo que não será nada agradável."
O padre se recompôs, pegou o corpo esperou anoitecer e secretamente enterrou no cemitério da igreja, ninguém nunca saberia... ao terminar palmas veio de trás e uma risada alta preencheu o lugar.

- Por que me segue se sabe quem sou?

O padre voltou-se para o lado de onde vinha a voz gutural.
Fechou os olhos e começou a rezar.

- Desapareça cria do inferno. In nomi di patris et filis et espiritu sancti...
- Amén... - terminou a criatura ironicamente.
- Por que está entre nós? Por que assola esta terra com teus prazeres mundanos e infernais?... - o padre foi interrompido.
- Calma, uma pergunta de cada vez bondoso padre. - Pare de me seguir, ou encontrará mais presentes meus...

A voz o deixou da mesma forma que apareceu... de repente!

- Aquele ser não é igual aos outros de sua espécie. Não é vulnerável como eu pensei que fosse, então como posso dar um fim nisso antes que todos desta cidade sumam de vez? – o padre pensava roendo as unhas ainda perturbado com todas aquelas coisas que aconteciam e não saber como evitar e isso o deixava mais assustado.

João preferiu descansar, deitar em sua confortável cama e esquecer esse fato por enquanto, mas ao dirigir-se ao seu quarto ouviu algumas vozes como costumava ouvir, eram vozes agradáveis como se os anjos estivessem falando algo com ele há muito tempo e que ele nunca soube o que realmente significava. Tirou os seus sapatos e meias, pegou roupas limpas e tomou um bom banho gelado, as vozes haviam sumido. Depois recolheu-se para o tão desejoso descanso, olhou para cima e viu uma cruz dourada no teto. Sem entender ele visualizou aquilo durante um tempo, mas logo o objeto sumira repentinamente. Achou estranho e finalmente resolveu dormir.

- Olá padre! Fico feliz em vê-lo novamente. – o sujeito abriu um largo sorriso debochado. -Você deveria ter lembrado sobre o que te falei ontem! – o sujeito foi se transformando em uma espécie de monstro com dentes afiados e a sua pele extremamente pálida e pegou o pescoço dele com muita facilidade e o levantou e assim foi esmagando, esmagando até explodir os seus miolos e quando finalmente deu um fim ao padre...

João acordou na mesma hora respirando rapidamente, ofegante e com o seu coração disparado, pensou que havia morrido. Quando olhou para o relógio despertador eram apenas sete horas da manhã, já havia amanhecido.

- Que... Que pesadelo horrível! – ele balbuciou.

Enquanto se arrumava para sair dali alguém batia no imenso portão lá de fora, ele ficara pensando paralisado que fosse a criatura, quase deixou a escova de dente cair de suas mãos enquanto escovava, mas se lembrou que era dia e o individuo só aparece à noite. Gargarejou e cuspiu, fez isso umas três vezes e depois gritou que já estava indo e então caminhou rapidamente com as chaves na mão e abriu o portão.

- Olá padre, como vai? – era o seu amigo policial.
- Ah é o senhor. Desculpe está tudo bem por aqui. – suspirou mais aliviado.
- Sabe... Quando nós conversamos outro dia sobre uma mulher que sumiu? Pois é outra desapareceu e eu pensei que você soubesse de alguma coisa.
- Sinto muito policial, mas eu não fiquei sabendo de nada. Sou apenas um padre.
- É, e o único no local. Por que está aqui? – o policial indagou.
- Esse sempre foi o meu lar. – João respondeu com clareza.
- Tudo bem. Qualquer coisa entre em contato. – Terminou o policial.
- Obrigado Raphael pela gentileza.


O padre se recolheu, terminou seus afazeres e abriu as portas... como de costume a missa teria que começar, mas a igreja continuava vazia, o padre calado olhava o Cristo crucificado, ainda com fé pedindo por auxílio, nem que fosse seu último ato ele livraria aquele local do demônio... ficou mais alguns minutos em silêncio quando ouviu alguém se aproximar, sem olhar para trás caminhou até o altar e abrindo a bíblia olhou para a frente... estagnou.

- Ha ha ha... vim ver seu público e seu show de perto, mas parece que não possui mais platéia... - falou o estranho sorrindo com seus dentes pontiagudos a mostra.
- Não pensei que... - o padre balbuciou algumas palavras espantado...
- Nunca pensou que eu viria até você... nunca pensou em me ver à luz do dia... nunca pensou mais o quê Senhor padre?
- o vampiro terminou a frase do padre, que continuava incrédulo.
- Vou mandá-lo de volta ao inferno, já que não pode mais ter redenção.
- Sério? Mas com que certeza me diz isso? Na certeza de que toda criatura pura será levada ao paraíso se for fiel? Eu fui fiel e olha o que eu ganhei... nada mais justo roubar-lhe um pouco do rebanho... Padre... não tem como me levar de volta ao inferno, nunca fui lá. Mas vivo em um aqui, com você!

O padre franziu a testa... não entendia o que ele havia falado... como ele tinha sido fiel? sendo um monstro!!!

- Pois é padre... vejo tanta dedicação da sua parte... tanto amor... já fui assim, como você... já fui um padre há muito tempo! Posso te dizer uma coisa? Não vale a pena!

João via os olhos da criatura faiscando, não sabia que ele viria de novo à sua procura.

- Um deslize e fui amaldiçoado pelo Pai... Agora ando por suas esquinas e tenho que me alimentar...

João pensativo mostrou-se interessado e ao mesmo tempo pensava em como sair daquele lugar... ou em como enfrentá-lo.

De repente a criatura saltou do banco onde estava e avançou em cima do padre com a boca arreganhada salivando, João sentiu seu hálito fétido banhando-o... sentiu nojo... O vampiro o segurou pelos braços e já ia mordê-lo quando reparou que João estava de olhos fechados sussurrando...

- Isso padre, reze... reze por sua alma... para o lugar onde vai, você vai precisar! - falou o vampiro inquieto.

Ao mesmo tempo em que segurava o padre, sentiu como se suas entranhas se contorcessem... estranho, pois ele há muito não sentia nada mais em seu corpo morto... sentiu sua garganta inchar e sua cabeça parecer uma bomba, mas continuou em cima do padre... quando quase não agüentando escutou o padre falar.

- Não rezo por mim... nem pra salvar minha vida... isso eu a daria se soubesse que com isso te salvaria. Rezo por ti... sei que não possui mais alma, mas rezo por ti, para que descanse e pare de fazer maldades, rezo a Deus para que te ajude, mesmo você sendo uma criatura, um vampiro... rezo para que tudo acabe!

Em agonia Alek mordeu o padre que se entregou aos caninos da besta e continuou com sua oração... Alek não aguentou mais e soltou o padre João que caiu de lado, inerte... gritou se segurando aos bancos e fumaçando... com raiva esbravejou para o altar... a fumaça aumentava e o vampiro gritava ainda mais... até que os raios solares invadiram a igreja estourando os vitrais e queimando o vampiro agora com toda a sua potência, Alek ainda olhava para o Cristo no altar quando se desfazia, logo depois somente suas cinzas estavam por todo o local.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Troféu Surreal

 Esmurrei um padre pegando sua idolatrada cestinha transbosdando de fé verde, vandalizei o quadro vermelho do ditador gigolô com anarquia preta, também destruí os cabos transmissores daquela emissora televisiva e ainda arranquei umas máscaras sangrantes rindo copiosamente.

Au, Au, ou... ou! Chutei a poltrona, manquei feio. Onomatopéias...

O arame farpado prendeu e rasgou um idiota que insistia em babar fezes enquanto resmungava ferido e amedrontado no quintal. Eu não tenho pena, não tenho mesmo. Que se exploda meu cinismo e sujeira moral, assumo mesmo: te desci a porrada!

Te amarrei para assistir sua desgraça, solei em meu baixo elétrico chorando e gritando desesperadamente e duas cordas grossas de metal arrebentaram cortando seu rosto.

Scarrf! Escarrei uma goma grossa e visceral que te encapuzou nessa podreira toda. Cuspi, sim senhor e foi fodido, você quase se sufocou no meu catarro.

Bati palmas e gargalhei do teu medo, pois te odeio, é puro sadismo meu. Pausa para meu riso! Eu quero rir, cacete! Ha, ha, he, he. Satisfeito!

Posso falar mais alto? Posso sim! Nenhum babaca vai me impedir, não podem te ouvir gritar! Eu tenho o megafone e seus ouvidos vão estourar com minha histeria!

Pingue, escorra nesse show desgraçado onde gerarei insanidade com tanta vodka na idéia, vou colocar a culpa nessa cachaça. Tá eu sei que não é cachaça, trepe com o gargalo!

Eu mato e torturo mesmo, eu te torturei e matarei mesmo na insônia voraz que me prostitui nessa merda fedida. Qual é a tua? Diz pra mim!

Só na minha cabeça você existe. Pare de chorar, é o fim!

Engulo risonho a chave para minha fuga, fico trêmulo com minha confissão amassada na mão, então rasgo o chão para longe do meu rastro rubro. Eles chegarão para nos recolher, não se preocupe. Você não foi escondido, sua cabeça está nessa mão. Já finquei teu corpo como troféu no portão de casa. Enrolei eles por meia hora dando prejuízo no fone deles. Agora eles querem me exibir e já estou devidamente trajado para isso.


- Mensageiro Obscuro.
Setembro/2010.

Foto: "Bloody Trophy", troféu feito de sangue humano e sangue animal por Thyra Hilden e Diaz.
Portal da artista: Thyra Hilden

terça-feira, 27 de julho de 2010

Ícaro e a Ameaça Invisível

A lembrança mais antiga que tenho da infância está ligada a um sentimento: o medo. Medo do desconhecido, do invisível, do sobrenatural. Sou filho único, e desde sempre me acostumei a ser solitário, visto que não havia crianças da minha idade na família. Eu era sempre cercado de adultos que me adulavam, me enchiam de presentes e se satisfaziam vendo-me quieto num canto, brincando sozinho. Eu era feliz no meu mundinho particular, eles eram felizes por não precisarem se preocupar com uma criança levada que pudesse criar milhares de problemas.

Foi em um desses momentos de solidão infantil no meu quarto que o medo em estado bruto pela primeira vez se manifestou, na forma de um palhaço sobre um triciclo. Esse brinquedo, com o qual nunca simpatizei, estremeceu repentinamente no canto em que estava encostado, virou-se na minha direção e lentamente seguiu em frente. A cena ficou gravada na minha mente como uma tatuagem. O ranger aflitivo daquelas rodinhas, o sorriso congelado e tenebroso do palhaço, o movimento uniforme do brinquedo que não era movido a pilhas ou a qualquer outra força externa que justificasse aquele deslocamento repentino. Isso foi demais para um pobre menininho de cinco anos de idade.

Corri, chorando, em busca de auxílio, gritando aos quatro ventos que o palhaço medonho estava vivo. Minha mãe, com toda ternura e paciência que só o instinto maternal pode prover, a muito custo me acalmou e voltamos ao quarto, onde eu deveria explicar o que estava acontecendo. Entramos no quarto, minha mãe à frente e eu agarrado à confortadora barra da sua saia, e indiquei o instrumento do meu temor, parado inocentemente embaixo da minha cama. Após minucioso exame do brinquedo, do caimento do chão e do grau de luminosidade do cômodo, seu parecer foi categórico: aquilo havia sido fruto da minha fértil imaginação infantil. Aliviado, acreditei no que disse, afinal como ela poderia estar enganada, logo a pessoa que me ensinou tudo o que eu sabia até então?

Passei a tentar conviver com o fenômeno dos objetos que se moviam sozinhos, sem motivo aparente, com cada vez mais frequência. No início da vida escolar, meus colegas falavam de amigos que eles tinham e que ninguém mais enxergava: super-heróis, fadas, anjos, bichos falantes. Exultante, me dei conta de que eram meus amigos imaginários que movimentavam as coisas ao meu redor! Só achava uma pena eu não conseguir enxergá-los. E foi essa a teoria apresentada aos adultos, que passaram a desconfiar de mim, achando que eu estava inventando histórias para chamar a atenção e criando bodes expiatórios irreais para acobertar minhas travessuras. Quando ninguém estava olhando e um copo repentinamente pulava da mesa, um vaso se espatifava contra a parede ou roupas eram arrancadas dos cabides e rasgadas, minhas explicações eram recebidas com ceticismo e surras, cada vez mais intensos e inclementes. Muitos diziam que eu estava me tornando um grande mentiroso, o que era uma coisa muito feia para uma criança.

Cheguei à pré-adolescência sob constantes olhares de reprovação e desconfiança. Passei a evitar o convívio com as pessoas ao meu redor, pois ninguém entendia o que acontecia comigo. Também procurei deixar de lado esse lado fantasioso da vida, afinal já estava bem grandinho para me apegar a essas coisas de criança. Foi então que o horror, há tantos anos esquecido, chegou despercebido e novamente cobriu-me com seu manto negro. Meu pai ouvia um programa de rádio que apresentava acontecimentos sobrenaturais enviados pelos ouvintes, e eu não pude evitar de ouvir essas narrativas, com crescente pavor e paradoxal fascinação. Foi então que comecei a associar os fenômenos narrados pela voz sombria do radialista com o que acontecia comigo. Através da audição daquele programa, que eu morbidamente não conseguia evitar, descobri o nome de minhas indesejáveis companhias: assombrações.

Meus dias passaram a ser um suplício, repletos de sobressaltos, palpitações, olhos arregalados e horrores indizíveis brotando em minha mente. A cada cadeira arrastada, eu imaginava um terrível demônio levantando-se e caminhando em minha direção. Por trás do movimento das cortinas em noites sem vento, fantasiava hordas de mortos-vivos arrastando-se sorrateiramente, preparando um terrível ataque. Bruxas, lobisomens, vampiros, criaturas grotescas de fossos infernais. Cada objeto em movimento, cada ruído na escuridão, cada toque repentino no meu corpo franzino, traziam consigo a dúvida de qual ser das trevas estaria por trás de tal ato.

Na inquietude da adolescência, passei de vítima aterrorizada a questionador implacável. Busquei respostas nos mais diferentes recantos da religião, do ocultismo, das crenças populares e das superstições em geral. Perdi a conta dos rituais dos quais participei, das longas horas perdidas em leituras de livros arcaicos e proibidos, das intermináveis consultas a especialistas da luz e da escuridão, cada deles me lançando em caminhos distintos, tortuosos e infrutíferos.

Quando iniciei minha vida acadêmica, era tido como um excêntrico sem amigos, um amalucado que se isolava do mundo, com interesses em assuntos que as pessoas normais evitavam. E foi com um professor da faculdade de psicologia na qual ingressei que encontrei uma resposta convincente. Após diversas conversas fora da aula, sobre o oceano sem fim da psique humana, descobri que ele era parapsicólogo. Expus meu problema e, voluntariamente, permiti que ele me examinasse, sendo a conclusão desses estudos minuciosos a palavra telecinésia. Finalmente, descobri a origem da angústia que é eterna companheira da minha existência: paranormalidade. Nunca havia cogitado uma resposta que não fosse um agente externo, e vi nesse momento que era eu mesmo o causador de tudo aquilo. Imediatamente, iniciei um exaustivo trabalho junto ao meu professor e a uma equipe de parapsicólogos indicados por ele.

Tornei-me seu principal objeto de pesquisas, e o pleno controle de minhas qualidades telecinéticas passou a ser a prioridade na minha vida. Ansioso e pressionado, não consegui evoluir um milímetro sequer na jornada rumo ao controle de meus poderes. Passei por diversos especialistas e equipes, mas nada deu resultado. Os anos foram passando e o desânimo passou a estar cada vez mais presente na minha vida. Especialistas chegaram a cogitar que os gatilhos de comandos telecinéticos que eu gerava eram originados no meu subconsciente, independentes da minha vontade. Sentindo-me um derrotado, desgostoso por não conseguir resultados, mesmo havendo descoberto a fonte de meus problemas, abandonei os estudos e as experiências.

Voltei para a casa de meus pais e sobre eles despejei todas as minhas frustrações. Ofensas à minha pobre mãe e ameaças de agressão física ao meu pai passaram a fazer parte do meu dia-a-dia, pontuados por murros nos móveis, chutes nas portas e louças quebradas. A telecinésia fugiu totalmente do meu controle, e eu já não sabia quanto daquela destruição doméstica tinha origem na minha força física ou nos meus malditos poderes paranormais. Em um dia fatídico, após mais uma das discussões desmedidas e altamente ofensivas que eu sempre dava um jeito de iniciar com meus pais, eles saíram apressados com o carro da família, buscando algum lugar onde estivessem livres da fúria do filho mal-agradecido, mesmo que por alguns momentos. Menos de uma hora depois disso, recebo uma notícia mais devastadora que um ataque paranormal que explodisse o meu crânio: não muito longe dali, meu pai havia perdido o controle da direção do veículo, colidindo violentamente com um poste. O carro pegou fogo e eles não conseguiram sair, por estarem presos nas ferragens. A morte de meus pais havia sido lenta e dolorosa.

Sob esse golpe do destino, uma dúvida passou a me assolar: seria eu o responsável pelo mal-funcionamento de um carro que sempre foi impecável, visto que meu pai nutria profundo apreço por ele? Aquele acontecimento foi um tapa na cara dado pela realidade, mostrando-me a ameaça que eu representava para a sociedade. Rememorei diversos pequenos incidentes que aconteceram ao meu redor, durante toda a minha existência, começando a sentir o peso da culpa por eles e acreditando que eu era o catalisador de todas as desgraças que me cercavam. Eu já não tinha mais nada a perder ou ao que me apegar, o que facilitou minha decisão: iria me isolar do mundo. Com a roupa do corpo, saí caminhando inconscientemente, sem cogitar comparecer ao funeral de meus pobres pais.

Perambulando a esmo pela cidade, analisei como as minhas impressões do mundo foram mudando com o passar do tempo. Quanta saudade tenho da época na qual acreditava em fantasmas, quando a ameaça era externa, e os culpados eram os outros! Com as assombrações, ainda havia a tentativa de correr, de virar a cabeça para o outro lado, de tentar ignorar os visitantes indesejados. Mas a telecinésia sou eu, passei a ser uma ameaça para o mundo. Sem me dar conta, caminhei por horas, vindo parar no interior da obra de um grande edifício, quase concluída, na qual nem sei como entrei. De pé, a trinta andares de altura, encarei o por-do-sol da fria cidade sobre um beiral sem segurança alguma. Despido de angústia, sofrimento e revolta, saltei. Não por estar cansado desta existência tumultuada, nem tomado por cega insanidade. Sou movido apenas pela mórbida curiosidade.

As pessoas dizem que quando se está perto da morte, sua vida inteira passa diante de seus olhos, e meu relato confirma essa teoria, visto que todo este depoimento durou apenas um segundo, desde o início de meu irreversível voo livre. Pouco mais que isso me separa do concreto rude e impessoal que me aguarda lá embaixo, e então terei a curiosidade saciada: tornarei-me um fantasma, como os que me assombraram na primeira metade da minha vida, ou serei salvo pela telecinésia que se revelou tardiamente na segunda metade? Finalmente, uma resposta imediata a um questionamento que tenha feito. Pela primeira vez na vida, sinto-me realmente livre.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Pedro, O Lobo

Alfer Medeiros


Sou homem, sou lobo, sou ambos.

Seres como eu são conhecidos por muitos nomes, com origens obscuras, soterradas sob montanhas de superstição, depoimentos desencontrados e falsas crenças religiosas. Não conheço outros da minha espécie, portanto não sei se são reais os fatos narrados por forasteiros de outros reinos, ou as histórias contadas de geração em geração pelo povo daqui.

Muitos chamam de maldição. Eu chamo de dom. Antes de conhecer meus dotes lupinos, era um pobre camponês, vivendo sob a mão de ferro de um senhor feudal inescrupuloso. Vivia na miséria, trabalhando como um burro de carga, para poder pagar os pesados tributos ao feudo e à Igreja.

Quando, aos quinze anos de idade, meu corpo subitamente se transformou durante uma noite de agonia febril, achei que morreria. Ao invés disso, tornei-me um ser fantástico, metade homem, metade lobo. A dor da transformação não é nada, comparada à glória de ser uma força incontrolável da natureza.

A partir daí, me tornei livre. A noite passou a ser minha amante, sempre de braços abertos a me esperar. As agonias de um dia desesperançoso, de trabalho árduo, passaram a ser suportadas com a lembrança das madrugadas de liberdade irrestrita que me aguardavam.

Minhas rondas noturnas resumiam-se a corridas pelas florestas e, vez ou outra, devorar animais de pequeno porte. Essa preferência mudou quando, por acaso, deparei-me com o maléfico senhor feudal, em uma de suas diversas escapadas adúlteras, na floresta próxima às suas propriedades.

Não acredito em destino, nem em sorte. Sei somente que, quando uma boa oportunidade surge nesta vida carente de recompensas, eu a agarro com unhas e dentes. Literalmente. E foi exatamente isso que fiz naquele momento, começando pela cortesã devassa que refestelava-se em luxúria, deitada na relva. Mordidas e arranhões inumanos desfilaram sobre a brancura de seu magnífico corpo feminino.

Seu companheiro de prazeres carnais, o objeto principal de meu ódio, correu desesperadamente pela floresta escura, ao se deparar com a terrível visão da cortesã estraçalhada. Toda a rudez com a qual maltratava as pessoas ao seu redor extinguiu-se ao som de seus gritos afeminados de terror. Toda a pompa do nobre que arrogantemente ostentava brasões e armas reais, do alto de seu cavalo, sumiu enquanto ele corria aos tropeços, nu da cintura para baixo.

Eu permiti propositalmente que empreendesse tal fuga. Da mulher, queria apenas me alimentar da carne. Em relação a ele, desejava me embebedar de medo, saborear a doce vingança e extravasar todo o ódio irracional que acumulei durante toda a minha vida serviçal e miserável. E foi assim que iniciou-se a melhor caçada da qual já fiz parte.

Perdi a noção de quanto tempo corri sobre quatro patas em seu encalço, derrubando-o frequentemente, urrando sobre sua face exangue, arranhando superficialmente sua pele, mordendo pernas e braços, para depois deixá-lo correr novamente, alimentando a esperança de que conseguiria escapar. Muito me diverti forçando-o a correr em círculos.

No momento em que minha audição privilegiada captou sons de guardas vindo em auxílio de seu senhor, acabei com a existência mesquinha do maldito. Uma orgia de sangue e restos humanos tomou conta da clareira na qual decidi liberar minha fúria irracional. Quando parti para o coração da floresta, senti-me mais leve e deixei para trás pedaços de carne irreconhecíveis.

A partir de então, tenho vagado por diversas paragens, vivendo como um andarilho sem rumo. A peste negra e a opressão dos senhores e da Igreja impedem que os sofridos camponeses possam me oferecer algum tipo de ajuda. Mas isso não importa, pois à noite, quando me dispo de minha pele humana, consigo o alimento e a liberdade, dos quais necessito para viver.

As histórias a meu respeito multiplicam-se. Sou confundido com feras selvagens, demônios e guerreiros sanguinários. A Santa Igreja empreende uma imensa caçada por suas terras, matando diversos inocentes no seu supersticioso caminho de destruição. Eu não me preocupo com eles, pois quando minha hora chegar, cairei lutando. Enquanto isso, uivos ameaçadores vão pontuando a sinfonia lupina que rege minha vida.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

O Outro Lado Da Morte

O Outro Lado Da Morte

Vinicius S. Reidryk

“Não sabemos para onde nós vamos após a morte. Pecamos demais.” A Cada dia eu penso estar distante de todos, “na verdade eu já fui há muito tempo.” Meu pai, minha mãe, minha família, como eu gostaria de voltar e vê-los pela última vez.

- Onde estou? – acordei ofegante de um longo pesadelo, “mas o que fazia a minha alma fora do meu corpo olhando para mim?!”
- Mary, você está bem? – perguntou o doutor preocupado, pois ela não parava de olhar para a porta. O que tem a porta? É branca não é? – ele deu um leve sorriso.

Ela emudeceu.
Os pais entraram preocupados com a filha e viram que ela os fitava, mas na verdade era ela mesma, a imagem de sua alma. Choraram ao perceber que ela não respondia... estava paralisada... não respirava...A sua alma virou-se de costas e saiu passando por dentro de seus pais. A menina olhou para o lado e viu que seus batimentos estavam no limite e lamentou-se com a última lágrima, esta foi a última vez em que vira a sua família.

- Mary...- uma voz sussurrava em seu ouvido e enfim apareceu com suas belas asas brancas diante da menina, ele tocou em sua testa e levou-a gentilmente.

Agora a menina foi entregue aos céus onde não haverá sofrimento e sim paz, alegria... E ficará esperando para reencontrá-los novamente.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Aura de Asíris- A Batalha de Kobayashi

Disponível! - Aura de Asíris - A Batalha de Kayabashi

O livro Aura de Asíris - A Batalha Kayabashi, um épico tecnofantasy escrito pelo publicitário carioca Rafael Lima e com referências como Star Wars, Final Fantasy e Dragon Ball Z, já está disponível nas melhores lojas físicas e virtuais do país.

Confira a sinopse:

Duas raças. Um só mundo e destino. A aventura começa.

Há séculos, banshees e furous guerreiam ao norte de Asíris, mundo governado por uma avançada tecnologia e permeado por uma energia chamada Aura. Apesar dos banshees terem vencido a maior parte das batalhas, algo está para mudar.

Uma antiga lenda, que prevê o nivelamento de forças entre as duas raças e, consequentemente, o fim desta que é conhecida como a Grande Guerra, aparenta ser verdadeira quando os furous inexplicavelmente se tornam mais poderosos e capazes de derrotar seus inimigos pela primeira vez na história.

A partir daí, uma batalha sem precedentes eclode em uma região conhecida como Deserto de Kayabashi. Neste cenário de tensão e expectativa surge Yin Ashvick, um menino de doze anos que pode ser a única esperança de todos. Ele terá que enfrentar uma longa e perigosa jornada, a qual colocará a prova sua coragem, altruísmo e determinação.

Para isso, terá a ajuda de seu mestre, Hanai Ashvick, o general do exército banshee, Irwind Heatbolth e outros personagens bastante carismáticos. Cada um terá que encarar seus piores temores para descobrir a verdade por trás da onda de terror que assola sua terra e pôr fim na grande ameaça que se aproxima.

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sábado, 6 de março de 2010

Por Um Vampiro...


Ao consultar as correspondências que me haviam chegado encontrei um envelope em branco, mas que possuia algo em seu interior.
Seria um atentado terrorista contra um reles escritor amador? O envelope conteria antraz? Mesmo hesitando um pouco levei o envelope para dentro junto com as demais correspondências e fui verificar o estranho conteúdo.
Acalmem-se, não havia nenhum pó branco, apenas a carta que transcrevo abaixo...


São Paulo, 20 de dezembro de 2009.


Escrevo para quem desejar saber a verdade, ninguém deve sentir-se obrigado a ler.
Sou um vampiro, um sanguessuga, uma criatura da noite, um nosferatu, um incubus, ou seja lá qual for o nome pelo qual me conheça ou prefira me denominar.
Escrevo para advertir, de uma vez por todas, para que não se engane em relação a mim ou àqueles da minha estirpe: nós não seremos piedosos quando a sede nos acometer.
Ao deparar-se com um de nós, corra, se houver a improvável possibilidade disso acontecer. Não anseie por nos conhecer, não nos idolatre, não se apaixone por nós... Não somos criaturas apaixonáveis, idolatráveis e não desejamos que meros mortais saibam algo ao nosso respeito até mesmo porque não há nada a ser aprendido conosco.
Muitos se consideram “especialistas” em vampiros sendo que jamais estiveram diante de um de nós. Baseiam-se em livros, filmes ou sei já qual for sua forma de estudo para escreverem tratados ao nosso respeito. A verdade está muito além do que julgam ser verdade e é bastante provável que jamais a conheçam.
Para mim, assim como para meus “irmãos” vocês humanos não são nada além de criaturas das quais necessitamos apenas para saciar nossas mais vis necessidades, nada além disso.
Somos muito mais do que você imagina e muito menos do que gostaria que fôssemos, e não, não seremos seu amigo.
Não nos apaixonaremos por nenhum de vocês, não seremos piedosos e muito menos carinhosos. Não seremos seu “namoradinho” ou “namoradinha”, ao contrário, sentiremos prazer em arrasar todo e qualquer sonho que você possa ter em relação ao amor.
Nos regozijaremos com seu derradeiro sofrimento e esteja ciente de que faremos o que estiver ao nosso alcance para que ele seja prolongado o máximo possível.
Possivelmente não nos consideraria belos ou sensuais se nos visse, muito pelo contrário, lembra-se do pior pesadelo que já teve? Não deve chegar aos pés da nossa verdadeira feição e realidade.
Que isso sirva de alerta a você que está vislumbrado com o “universo vampírico” e se considera como sendo um de nós somente por ter começado a vestir preto e passar pó branco em sua face juvenil. Ah sim, jovens de carne tenra e aveludada, ao menos são meus preferidos...
E engana-se muito se acha que está em segurança dentro deu sua casa, uma vez que não precisamos ser convidados a entrar em seu lar para podermos sorver seu sangue e possuir seu corpo, portanto, esqueçam isso, não estão seguros em lugar algum. Uma igreja? Não que você esteja seguro lá, mas dificilmente procuraremos comida em um lugar como esse, a menos que a sede nos obrigue a tal atitude.
Creio que tudo isso já seja o suficiente para entender a realidade dos fatos e para que passe a nos respeitar um pouco mais e não nos idolatrar como vem ocorrendo.
Em tempo: nossa pele não é de diamante, não expelimos purpurina e não perdoamos virgens. Sim, outra preferência minha.
Judas foi apenas um homem, nada além disso, assim como Drácula não foi o primeiro e muito menos o último de nossa linhagem e Aisha jamais foi rainha do que quer que fosse.
Lobisomens? Será que existem? Só adianto que jamais nos relacionamos com nada semelhante e muito menos guerreamos com eles.
Como eu sou mal. Acabei com seus sonhos? Apaguei suas ilusões? Destruí suas fantasias? Que pena...
Aproveite sua vida e cuide de seu pescoço, enquanto ele ainda mantém sua cabeça ligada ao corpo.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Meu Habitat

Corri firme pelos campos nevados das montanhas,
O céu era branco e pouco estrelado,
Árvores, pedras, rios e lagos... congelados,
Algo diferente havia em mim,
Sentia pelo corpo, sentia-me mais instintivo,
Eu mudei e buscava minha egrégora.

Notei cavernas escuras e geleiras imponentes,
Granizos caíam como estrelas pouco vívidas,
Na serenidade mortífera tudo era inóspito,
O frio e ventos incomodavam-me menos,
Minha aventura estava mais próxima do fim,
Abismos e cavernas agora eram meu território.

Vivi a edificante misantropia naquele lugar incrível,
Lá eu era livre de fardos da humanidade,
Em meu lar distante eu podia ser eu mesmo.
No alto da montanha observei o abismo,
E senti um poder interno crescente.

Rosnei e urrei, logo senti-me maior e poderoso,
Pesado e peludo, meus trajes sumiram,
Transformei-me em um grande urso polar.
Descansei em uma caverna escura,
Dormi entre meus parentes ursídeos.

Hibernei até a próxima estação, esperando por dias melhores.


- Mensageiro Obscuro.
Dezembro/2008.

terça-feira, 2 de março de 2010

A-T-L-A-S - O Segredo do Mundo

Atlas - O segredo do mundo

Vinicius S. Reidryk( Portal das Trevas... )

Há anos o nosso mundo vem deixando rastros de erupção.
O nosso caminho está selado pelas coisas ruins que fizemos,
mas como podemos consertar tudo isto?
Hoje, 23 de outubro de 2011 eu acordei em um lugar estranho
coberto de labaredes de fogo, vozes altamente abusivas e roucas.
Eu estava seguindo para uma nova fonte de almas maléficas
para o fundo das chamas. Aquilo parecia mais um rodamoinho
que sugara a minha alma para dentro dele. Eu era mais um dos condenados.
Meia-hora depois...
Eu estava de pé com os meus olhos esbugalhados temendo o pior.
Fiquei perplexo quando descobri que aquilo era apenas uma ilusão.

- Não pode ser! Isso não está acontecendo! - eu estava indignado
de forma inimaginável.

Meu pai e minha mãe entraram no meu quarto e pediram para
que eu descesse para almoçar.
Desci as escadas passo a passo, bem devagar e observando tudo.
Tudo estava como antes em seu devido lugar. Meus pais e meus dois
irmãos mais novos estavam juntos a mesa rezando antes de comer.
De repente alguém bateu na porta e eu fui atender, trêmulo.
- Uma carta para Haniel dos Santos. - disse o carteiro.
Eu apenas peguei a carta e peguei o conteúdo depois de assinar.
- Obrigado! - agradeci, já com o livro na mão.
Era um livro grosso escrito ATLAS. Este tinha um desenho do Planeta
Terra, muitas nuvens carregadas e muitos lugares secos.
Como eu sou muito curioso fui ver de quem era a carta, adivinhem...
o remetente era Inferno.
Subi as escadas imediatamente e gritei que não estava com fome,
assim fiquei sentado na frente do computador folheando as páginas
do livro.
Cada página que eu passava o livro mostrava imagens e documentários
sobre pessoas mortas, sobre o fim do mundo. Eu não queria mais parar
de ler... Havia coisas tão chocantes ali que me fez lembrar do
pesadelo que tive. Almas sendo sugadas para um buraco sem fundo,
demônios devorando os que acabaram de chegar...
Não é a primeira vez que eu vejo tudo isso, mas sempre fico incrédulo.
As pessoas chegaram num limite de que não há mais volta! Eu vejo pessoas
comendo partes de bebês, uma pessoa matando a outra porque esbarrou
no meio da rua,
pai tendo caso com a própria filha...
Isso me deixou triste ao continuar lendo o livro.
No dia seguinte...
Eu fiquei em pé durante 40 minutos tendo uma outra visão. O atlas que
estava em minha mão havia mudado, desta vez no planeta terra, havia
uma rachadura enorme escrito nomes de vários países que seriam afetados
por terremoto. eu só percebi porque eu vi tudo passando em minha cabeça
durante o tempo em que fiquei de pé ao lado da minha cama.
Eu desci as escadas procurando a minha família, andei pela casa inteira
preocupado
e não encontrei ninguém.
As casas lá fora estavam todas destruídas menos a minha e foi aí que eu
gritei morrendo de medo.
- O mundo está acabando! - eu repetia inúmeras vezes.
O vento parecia formar um furacão lá fora de tão forte que estava,
o céu negro trovejava, relampejava abundantemente,mas não estava
chovendo.
Uma semana depois...
Eu ainda estou com a minha família, uffa! Era mais uma daquelas visões.
Pensei que aquelas coisas aconteceriam logo, mas não eu estava
realmente enganado.
Bem... a vida continua e as pessoas tolas deste mundo ainda se matam
e se rendem as coisas ruins.
Já havia terminado de ler o livro e achei interessante, pensava que
era apenas
um livro de ficção que me levava para cada lugar horripilante parecendo
que estava lá assistindo as coisas terminarem de forma destrutiva
ao fim do mundo.
Ano 2018...
Eu respirei fundo e desci as escadas para mais um dia de vida, mas...
Cadê a minha família? Dessa vez estavam todos mortos.
Foram assassinados.
Eu tinha visto inúmeras sequências mostradas por aquele mapa
de que coisas ruins
aconteceriam, mas não acreditei que fosse verdade.
o ATLAS tentou me mostrar a verdade sobre o mundo e no final
dizia que todos os seres puros(de BOA FÉ) seriam levados para
o Paraíso e os seres ruins( que não acreditam em Deus, que pecaram demais)
não seriam absolvidos e iam diretamente para o inferno.
Agora terremotos, tsunamis, furacões predominaram o mundo
de todas as formas possíveis e eu por não acreditar acabei
morrendo, enfim descobri o segredo.
Mesmo que eu tentasse jamais poderia ter evitado tragédias,
pois o ATLAS estava guardado com a pessoa escolhida, EU
e por isso ele veio até mim porque eu jamais acreditaria
e também não impediria o FIM!