domingo, 28 de fevereiro de 2010

* PREDIÇÃO *

* Predição *

Liartemis

Um raio rompe o céu naquela noite, seu som rompe e vai além dos mundos.
Virna acorda assustada, levanta-se e caminha em direção da janela que é aberta por suas mãos trêmulas.
A sensação de medo é muito aparente e ela não consegue esconder. Os trovões soam como tambores e os fechos de raios que rabiscam as nuvens, desenham um olhar que lhe assombra. Dois olhos grandes lhe causam pavor. Como se algo viesse buscá-la e aproxima-se muito rápido.
Virna sente-se agoniada e sai pela porta do quarto se arremessando pela escada em espiral que parecem não ter fim. Sua camisola possui uma calda que se arrasta pelos degraus. Sob o último degrau Virna encontra-se estática.
Os sons dos trovões estão mais próximos e tornam-se ensurdecedores. Ela parte em direção à porta da frente, mas sente que algo em instantes irá abrí-la e em encontro será inevitável. Então elimina esta alternativa. Resolve, enfim sair pela porta dos fundos que dá para um imenso jardim.
O piso daquele casarão é todo quadriculado em preto e branco, onde os quadrados pretos afundaram-se e viraram buracos. Sua imaginação não criaria tais momentos, mas ela arrisca-se ao perigo.
Virna sente medo e acima de tudo pressa. Consegue, enfim, a liberdade.
Corre sem saber para onde ir, mas por trás dela estava a casa e dela conseguia ouvir somente as portas baterem sem parar e repetidas vezes, até as janelas não agüentarem, estilhaçam todos os vidros.
Correndo pelo jardim sente-se aflita e ouve passos quebrando os galhos no caminho atrás dela e com certeza não eram os seus.
Desesperada, seu corpo encontra-se com um espantalho, que fica na plantação de legumes. O grito de pavor vem em sua garganta e rapidamente é sufocada pelas suas mãos. Mas a criatura ainda esta no seu encalço. Virna atravessa um vale que termina à beira de um abismo e lá embaixo somente as ondas se arrebentando nas pedras. Percebe-se em uma situação sem saída.
O vento soprava forte, violento e a criatura se revela de uma sinuosa fumaça negra.

Pablo é seu nome. E veio por um intuito apenas. Reinvidicar sua esposa. Ele apresenta-se muito Cortez e diz:
- Eu sou Pablo e sou um Vampiro.

Virna treme muito, sem ação não tem iniciativa alguma para ao menos apresentar-se.
- Você é muito bela e seu nome é Virna, ou estou enganado?
Como também já foi Úrsula em sua vida passada.

- Não sei do que você esta falando. Meu nome é apenas Virna. Por que me persegue? - Ela interrompe o diálogo.

- Vim ao teu encontro para te desposar. Não te recordas de tua promessa?

- Não fiz promessa para ninguém, muito menos para você! – Alterada ela responde sem compreender.

Ele mergulha em suas lembranças.

- Nós éramos amantes, quando seu nome era Úrsula. Nunca tive coragem de lhe transformar ou apenas saciar minha sede. Amei-te demais, e assim, vivemos e nos completávamos. Até você adoecer, então você me prometeu na hora de sua morte, que em sua próxima vida por direito serias minha novamente.
Você tem a essência de Úrsula. Sabia que você já foi uma poderosa Bruxa?
E vejo que a tradição continua em ti. Com sua morte sofri muito. Seu espírito reencarna em ti pela primeira vez e pra mim não foi difícil encontrá-la, pois o poder e o aroma que seu espírito emana vem com muita facilidade ao meu encontro.

Novamente Virna interrompe:

- Não desejo ser sua esposa. Pois o meu destino me pertence e somente eu o governo.

- Não quero perder você porque dessa vez terei coragem e lhe transformarei, sentarás ao meu lado no trono como uma rainha. O nosso amor se eternizará.

Virna grita:

- Naaaaaaaaaaaão!

Os relâmpagos e trovões cessam e somente o assovio do vento lhe vem aos ouvidos.

Ela completa:

- Será que em minha vida passada eu não lhe prometi algo mais?

Virna aproxima-se do abismo, correndo perigo de cair.

- O que queres dizer? – Ele interroga.

- Talvez uma profecia do tipo, que você deve tentar encontrar a vida certa em que te aceitarei. Como já lha disse anteriormente, sou dona do meu destino e somente eu o governo! – Virna faz a revelação.

- Virna!
Cuidado, venha comigo.
Você esta na beira do abismo não te saída. – Pablo alerta.

- Você só não sabe de uma característica minha e isso Úrsula não lhe disse.

Virna finaliza seu devaneio.

- De que mesmo na beira do abismo...
Eu adoro voar...

Virna atira-se na escuridão do abismo. Ainda com o sorriso no rosto por ter acabado com o sonho de Pablo.

- Naaaaaaaaaaaaaão! – Pablo grita desesperado.

Um raio rompe o céu e seu som vai além dos mundos. Virna acorda em súbito assombro, levanta-se e caminha até a janela.


Por: Liartemis

Na Noite Fria

Na Noite Fria.

Oscar Mendes Filho

É noite de quinta para sexta-feira. Uma fina e gélida chuva cai sobre a cidade deserta e um vento forte varre as ruas.
Nada se ouve, apenas o som monótono das gotas que caem no chão já frio e o medonho assobio do vento incessante.
A cidade parece morta.
Testemunha ou guardiã da noite, a Lua Cheia debilmente clareia a cidade, tentando vencer as nuvens que dominam o céu.
Pelas ruas mal iluminadas um homem caminha apressadamente. Seus passos se apressam ainda mais quando ele ouve um estranho ruído. Seu corpo se arrepia ao sentir que alguma coisa o observa. Onde? Impossível dizer, o som da noite não permite que ele possa precisar.
Completamente apavorado, seus passos antes ligeiros transformam-se em uma desabalada correria. A ânsia de chegar à sua residência e sentir-se seguro é o que o motiva.
Essa é sua esperança, talvez essa seja sua única alternativa.
Seus pulmões queimam. O desesperado homem não está acostumado a tamanho esforço físico. A baixa temperatura do vento que lhe corta a face também contribui para minar sua resistência. As ruas escorregadias por diversas vezes quase o levam ao chão.
Adiante, em uma esquina, um vulto parece aguardar sua aproximação.
O pânico toma conta do homem que desesperado grita por socorro. Em vão. Ninguém responde aos seus apelos e ao perceber que o vulto enigmático lentamente se aproxima ele percebe que está próximo da morte.
Inútil correr, inútil gritar.
Exausto, aterrorizado, inconsolável, ele cai de joelhos ao chão molhado. Suas lágrimas misturam-se às gotas da fina chuva que já encharcam suas roupas.
Cabisbaixo, como entregando sua vida à voracidade daquela fera que já está de pé diante dele, o homem apenas sente a dor causada pelos dentes da bestial criatura que lhe abocanha o pescoço.
Ela banqueteia-se com seu sangue e, após dispensar o corpo inerte do homem no asfalto úmido e frio, sai em disparada pelas desertas ruas da cidade que dorme.
Buscando outra vítima, ou na ânsia de encontrar um lugar seguro para se abrigar, quem pode responder?
Meio bicho, meio gente. Ao raiar do Sol o Lobisomem retorna à sua condição anterior, humana, porém cansado e com o resto de suas vestes manchados com o sangue inocente da última vítima.
Isolado, remoendo-se com o peso do remorso causado pelas vidas que sua bestial condição o obriga a ceifar, ele permanece isolado até a chegada da próxima noite, em que a maldição da Lua voltará a transformá-lo em fera.
Outras noites, incontáveis, incessantes, terríveis, ainda estão por vir...

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Without u (A suicida)




“Ainda não esquecida sensação”.

A casa ainda possuía o perfume da essência de almíscar. Do lado de fora o cheiro das rosas no jardim atraia as abelhas e as borboletas. A luz do sol refletia azulada dentro de cada cômodo transmitindo uma sensação gelada e desoladamente deprimida.
Na banheira o corpo de Simone já sem vida boiava dentro da banheira cheia de água gelada. Havia afogado mesmo seu corpo?
Uma sensação de vazio a perseguia. Por fim, ela não sentiu nada. Mais nada. Depois dos segundos do ultimo suspiro.
A alma de Simone estava ao lado da banheira vendo o que ela tinha sido, pelo menos o corpo que era antes de se suicidar. Ela contemplava seus olhos petrificados e sem vida sobre a água. Seus longos cabelos castanhos deslizavam como se flutuando ao redor do seu rosto. Onde sua alma seria levada agora? Nem ela sabia responder.
Ela esperava que anjos ou mesmo demônios fossem buscá-la quando tudo terminasse e até aquele momento nada havia acontecido. A morte e a visão de si mesma na banheira tinha sido tudo. Mesmo sendo uma alma Simone podia sentir a água fria envolvendo seu corpo moribundo toda vez que olhava para ele. Era como se ainda estivesse lá.
A vida inteira esteve morta por dentro. A opção pela morte nunca a assustara. A asfixia não fora nada surpreendentemente dolorosa para quem sofreu muito mais em vida.
A alma desencarnada de Simone começou a vagar por sua casa olhando cada detalhe. Os poucos porta retratos na sala mostravam cenas de um tempo em que fora feliz. Longe da depressão. Esse tempo a muito tinha sido esquecido na nuvem negra que era sua vida.
Seus olhos foram por acaso guiados a sua coleção de Cds românticos que tanto adorava. Cada um mais meloso que o outro. Em vida ela jamais teria admitido esse lado doce e vulnerável. Agora, já que estava morta mesmo, podia sentir orgulho de ser ainda romântica a moda antiga nessa era de bundas e peitos.
Ao tocar um de seus cds pode perceber com certo susto que podia o segurar em suas mãos e não o transpassava como acontecia nos filmes estilo Ghost. Pegou um dos seus cds favoritos e o levou ao micro system da sala o colocando na primeira bandeja e apertando o play.
O cd era o seu favorito entre todos os outros. Mariah Carey a rainha dos românticos começava a cantar um das suas musicas mais emocionante Without u. Ao começar a ouvir a música Simone sentiu todo o universo de sentimentos que a muito tinha esquecido.
Alias desde seu suicídio há uma ou duas horas e meia na banheira tudo a sua volta parecia bem diferente do que era em vida. Tudo era belo e simplesmente radiante. Não existia a pressa desvairada e nem aquele vazio mórbido que a consumia por dentro.
Lentamente ela se sentou em seu sofá onde sentia uma leve brisa refrescante com um cheiro delicioso. Eram as rosas que cultivava no jardim desde que seu pai e sua mãe eram vivos. Eles a ensinaram todos os truques de como deixá-las ainda mais bonitas sem o uso de produtos industrializados. Por que eles não vieram buscá-la para a viagem que deveria ter feito para o outro lado?
Simone estava arrependida de ter feito aquilo. Por que se matar quando podia estar aproveitando tudo que percebera agora? Depois de morta, e que dera valor a vida. Se ao menos tivesse se preocupado menos, e aberto a mão algumas vezes de coisas que podiam ter esperado, talvez nunca tivesse feito aquilo. Veria como era bom ter tudo que tinha.
Enquanto Without u esta quase no fim, ela percebeu como até mesmo esse prazer ela perdera. Quantas vezes deixou de ouvir suas musicas favoritas para não parecer antiquada.
Quanta besteira fizera por causa da opinião alheia. Poderia ter ouvido aquela musica o quando quisesse em vida até decorar cada parte, porém o que achariam dela bancando a romântica brega no mundo das mulheres cachorras.
Quanta coisa perdera. Pensava ela se torturando por dentro agora. Não aproveitara a mais simples das coisas ao máximo por medo do que as pessoas que nem estariam no seu enterro falariam a seu respeito.
Agora já estava feito e estava morta. Só agora tinha percebido como a vida poderia ser tão mais linda se fosse um pouco mais livre.
As amarras e condenações da sociedade de hoje com seus padrões a tinham deixado depressiva e doente, como muitos outros estariam agora preste a fazer o mesmo erro que ela se arrependera.

Leonardo Ragacini

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

No Confessionário

No confessionário

Regina Castro

Tarde da noite padre Jhones caminha devagar pela nave vazia, acabara de fazer a missa a qual havia demorado mais que o comum, cansado, em seu coração só havia um apelo, uma cama bem quentinha, o peso da idade era tanta que o padre as vezes deixava-se passar o tempo sentado olhando a grande cruz a sua frente, mas naquela noite não, naquela hora tudo que ele mais queria era ver tudo fechado, estava excessivamente exausto, o ritmo das confissões tinha triplicado nos últimos dias e ele já pensava na merecida aposentadoria.
Olhou para a pesada porta a sua frente e quando tentou fechá-la alguém impediu, assustado olhou para a pessoa já tentando explicar que voltasse outro dia, mas ao encará-la parou de falar, seus olhos eram brilhantes e de certa forma ele até esqueceu do que falava e perguntou...
- Pois não moça? - perguntou com ar bondoso.
- Teria um tempinho padre? Pra uma conversa sabe... - sua voz soava como melodia.
O pedido veio com tanta meiguice que o padre Jhones não teve como negar, até pensou duas vezes depois de ter acordado de uma espécie de transe ao qual viu-se perdido, ao fitar olhos tão envolventes, por fim consentiu com a cabeça e dirigiu-se para uma portinha de madeira na lateral e pediu que ela o seguisse, ele entrou na cabine cuidadosamente adornada e abriu a portinhola.
- Pois não filha, estou aqui para receber tua confissão em nome de Deus Pai Todo Poderoso. - falou o padre com a voz rouca.
- Então quer dizer que eu teria que começar com a frase... "Perdoe-me padre, pois eu pequei..."
- Você pode começar como quiser minha filha...
- Primeiro vamos fazer um acordo, pare de me chamar de filha, que eu penso se te dou mais uns aninhos de vida ou não.
- O qu...
- Eu disse que queria conversar, e não que vim me confessar... não preciso de sua absolvição... entendeu?
O padre ao ouvir aquilo tentou sair da cabine, mas agora a voz que ouviu pareceu vir do mais profundo inferno.
- NÃO!!!... - a mulher acalmou a voz e continuou. - Se eu fosse você ficaria paradinho e me ouvindo, senão eu posso perder o fio de paciência que tenho!!! -depois de uns segundos... - sim meu querido Jhones, agora sim, gosto da sua submissão.
- O que quer de mim? - perguntou Jhones com voz trêmula.
- Quero te contar um pouco de mim, o que faço, como vivo e depois o seu destino poderá mudar, nem Deus poderá te ajudar agora.
- Por que eu?
- Você foi meu escolhido ha exatos 76 anos.
O padre engoliu seco, essa era exatamente a idade dele.
- Você disse 76 por que?
- Isso mesmo, não precisa duvidar, falei mesmo de você, te conheço Jhones desde bebê, conheci seus pais, seus irmãos e hum, deixa ver... uma tia.
- Mas eu sou órfão, nunca conheci minha família, acho que você está falando com a pessoa errada.
- Você vem de uma linhagem de caçadores, e eu tive que interromper o ciclo para acabar com essa raça.
- Acho que você precisa de ajuda mocinha, você é muito nova e tem chance ainda.
- Haaa, tanta inocência, sabe o que eu sou? Uma vampira e deixei você viver muito tempo, acho que errei nisso, foi uma falha minha, hoje vim concertar esse erro, pois o caçador adormecido pode acordar, sei que você sozinho não me daria dor de cabeça, só vim aqui para terminar o que comecei, somente isso. Matei sua família ha muito tempo, lembro de como seu pai implorou, uma vergonha um caçador do calibre dele chorar feito um bebê, acho que foi por isso que minha ira cresceu também em cima de seus irmãos, sua mãe te defendeu até a morte, hum, muito tocante, já sua tia, morreu por que tentou fugir deixando todos para tras, covardia me enoja.
Ao terminar de falar Melanie abriu uma fresta na portinha e jogou uma foto antiga onde todos da família estavam muito felizes, e ainda falou.
- Vê o bebezinho? É você.
O padre Jhones perdeu a fala, olhando a foto seus olhos começaram a marejar, mas ficou calado, pensou que se tratasse de uma louca, pensou tantas coisas, mas no final, acabou fitando a foto com tanta tristeza, que não soube o que falar e a vampira continuou.
- Sabe essa correntinha que você está usando e nunca se separa? Essa letra M é do meu nome, e não de uma mãe que você imaginou tanto tempo.
Aquilo bateu fundo em seu coração, ela sabia até do seu tesouro, a correntinha que foi encontrada com ele e que ele sempre pensou que tivesse sido de sua mãe ausente, Jhones sentiu-se invadido, pensou estar as margens da loucura. Arrancou a corrente e atirou-a no chão, sentiu falta de ar, aquele cubículo estava apertando sua vontade de gritar e sair correndo.
- Acho que vou terminar com seu sofrimento, pois pra fechar o ciclo, preciso de algo seu, o sangue do último dos Ferrato e esperei muito tempo, foi muito tempo te vigiando, te cuidando, mas você está chegando ao fim e antes que esse fim chegue, preciso pegar o que é meu... sabe, por causa do sangue da tua linhagem consegui identificar e exterminar quase todos os que se meteram a besta com minha raça, até certos traidores foi fácil matar, pois você não sabe, mas seu pai, o grande Lucien Ferrato foi como eu, um vampiro, um ótimo vampiro mas sua mãe tinha que aparecer... ele não tinha que ceder a um sentimento comum entre mortais, mas cedeu e virou caçador, viveu feliz por um tempo formando sua familia, mas não ficou quieto no canto dele e saiu caçando a própria raça, traindo nossa espécie, seu erro pior foi ir atras da pessoa a quem ele havia traido cruelmente, a quem por causa de uma simples mortal foi desdenhada, e que por causa da traição já alimentava uma vingança, EU,
seu erro fatal foi vir atraz de mim, não sei como consegui minha vingança, acho que minha raiva naquele momento ficou mais forte que o desejo dele por salvar os seus, e consegui investir contra ele.
- Mas por que me deixou viver? - perguntou o padre num fio de voz.
- Por que você, é o único filho que ele teve, quando ele conheceu sua mãe, ela já tinha seus irmãos, e até hoje eu me pergunto, como ela conseguiu engravidar dele... acho que isso te intitula aberração pior do que eu. Deixei você viver ainda por amor a seu pai, fui fraca, e te deixei num convento com minha correntinha. Você cresceu e ficou muito parecido com ele, eu ficava te olhando por muito tempo, mas agora te devo o descanso, não vejo mais em você o homem a quem tanto amei.
O padre ainda tentou falar, mas já faltava pouco pro sol nascer, Melanie precisava muito do que foi buscar e sem nenhuma pena ao ver aquele rosto envelhecido em sua frente, nada mais lembrava o traidor que ela nunca esqueceu...
Pela manhã, chegou a primeira beata e abriu a igreja como sempre fazia, e o grito ecoou do salão vazio, os outros que chegavam já para a missa da manhã, correu assustado ao encontro da mulher, qual não foi o espanto de todos ao ver o padre pendurado pelo pescoço, com o corpo cheio de talhos e perfurações e, no chão, no meio da poça de sangue encontrava-se a foto e um enorme desculpe-me escrito em sangue no mármore branco do altar.

O Contrato! (Dimensões BR)

O contrato

Vinicius S. Reidryk

Rio de Janeiro, 21 de janeiro de 2006.

Uma perseguição na Teixeira de Freitas, Centro, Rio de Janeiro, fazia com que uma pessoa corresse desesperadamente, vislumbrando atrás dela o assassino encapuzado e com uma máscara negra no rosto. André Frederico Silveira Machado Gomes Rocha, um homem alto e elegante, tentava chegar o mais rápido possível em casa, na esperança de salvar a própria vida. Um péssimo final para um dia ainda pior.
Na Avenida Rio Branco, onde morava com a família, o rapaz olhou para trás e não viu mais o assassino. Eram exatamente vinte e duas horas. Talvez ele tivesse desistido. Ou armasse um próximo ataque... Apesar da falta de fôlego, André continuou fugindo. Quando se aproximou de seu prédio, o segurança na guarita abriu o portão automático. Finalmente estava em casa.
Dispensou o elevador e subiu as escadas, suado, respirando rapidamente e pensando que escapara por pouco da morte. Ao entrar no apartamento, viu seus dois meninos brincando numa grande algazarra.
— Não corram dentro de casa – pediu. – Quantas vezes eu já falei isso?
As crianças obedeceram no mesmo instante. André, porém, não lhes deu mais atenção. Foi até o quarto. Queria tomar um banho e descansar. Assim que abriu a porta do guarda-roupa, percebeu alguma coisa errada e olhou para trás. Não viu nada diferente, estava tudo em ordem. Pegou algumas roupas limpas e se dirigiu ao banheiro.
Sua esposa adormecera no sofá da sala, dominada pelo cansaço. Na cozinha, deixara um prato com comida para que ele esquentasse no micro-ondas como de costume, pois sempre voltava muito tarde do trabalho.
Após o banho, encaminhou os filhos para o quarto deles. Já passava da hora de dormir. Como sempre fazia, contou-lhes uma história antes que pegassem no sono.
Assim que adormeceram, um vento forte invadiu o quarto por um instante, balançando tudo em que tocou. Temendo que seus filhos pegassem um resfriado, André fechou a janela. Deu um beijo na testa de cada filho e, quando fechava a porta, teve a impressão de ver um vulto do lado de fora da janela. Ilusão, pensou. Moravam no décimo andar. Só se alguém ficar flutuando lá fora, riu.
Na cozinha, pegou o prato de comida, em cima da mesa, e abriu a porta do micro-ondas. Ia digitar o tempo na tela quando a imagem de uma pessoa surgiu diante dele. O mesmo vulto da janela... Amedrontado, reconheceu seu chefe. O prato caiu de sua mão e se espatifou no piso. Estou louco, deduziu o homem. Assim que piscou, a imagem desapareceu.
— Amor, o que houve? – perguntou a esposa, entrando na cozinha.
André respirou fundo e foi buscar a vassoura e a pá.
— Nada, querida, só me descuidei.
— As crianças já estão dormindo?
— Já.
Sem dizer mais nada, ele recolheu a comida e os cacos de vidro antes de levá-los à lixeira. Perdera a fome.
— Vamos dormir também – sugeriu a esposa, puxando-o carinhosamente pela mão.

(...)

Rio de Janeiro, 22 de janeiro de 2006.

Na manhã seguinte, percorrendo as ruas movimentadas do Centro, André outra vez sentiu que o seguiam. Olhou para trás e viu uma mulher loira e magra, de olhos azuis, cabelos à altura dos ombros. Dobrou uma esquina, depois outra. Atravessou a rua e, então, deu meia-volta, tomando a direção contrária. A mulher continuou a segui-lo.
Amedrontado, o homem começou a correr. Adiante, esbarrou em alguém. Era o sujeito mascarado da noite anterior.
— Olá, André! – disse ele, como se reencontrasse um velho amigo.
— O que você quer?
— Você não pode fugir para sempre.
E sumiu, como se não fosse de carne e osso.
André correu muito até seu escritório. Não cumprimentou seus colegas, não reparou em nada. Não soube que o chefe sumira na noite anterior e que todos, claro, estavam preocupados com ele. Apenas se fechou na sala em que trabalhava sozinho. Não aguento mais, não aguento mais...
Um comprimido para dor de cabeça ajudou-o a relaxar um pouco.
Exausto, arrastou os pés até o banheiro. Abriu a torneira, lavou as mãos e o rosto. Ao fitar o espelho à sua frente, reparou na mensagem escrita com batom.
Você não pode fugir para sempre.
André cambaleou para trás.
E então voltou a correr. Para casa. Imediatamente.
Um vento forte o acompanhou pelo caminho. Viu pessoas mortas... Uma segurando a cabeça, outra com a garganta cortada. Uma, cerrada ao meio, rastejou pelo chão até ele...
André escapou de seus dedos gelados. Parou numa esquina e engoliu todos os comprimidos para dor de cabeça que carregava no bolso do paletó. Fechou os olhos. Quando ergueu as pálpebras, a vida voltara ao normal.
O efeito, porém, durou pouco. No portão de seu prédio, olhou para cima. Viu espíritos sendo levados para baixo, saindo de todos os andares, passando por ele...
As lágrimas nublaram seus olhos. O portão estava entreaberto. Entrou. Na guarita, o segurança morrera, esfaqueado.
No hall, virou-se na direção da escada. Lá estava o sujeito mascarado, nos últimos degraus, segurando na mão direita uma imensa faca ensanguentada. Minha esposa, meus filhos!, desesperou-se André.
— O contrato era tão simples! – disse o sujeito. – Por que não cumpriu sua parte?
— Por favor, eu...
— Voltei o tempo para você em três anos, como combinamos. Assim você teria a chance de se vingar de todos que te humilharam, te desprezaram. Seu chefe, seus vizinhos, sua esposa, seus filhos... Mas o que você faz, hein? Muda tudo o que combinamos!
O desespero deu coragem a André.
— Você não entende? Eu tive a chance de alterar meu passado! Não me viciei em drogas, não traí minha esposa, não bati no meu chefe e nem perdi meu emprego. Fiz tudo certo desta vez.
O mascarado se aproximou. Ergueu a faca, parando a ponta da lâmina a centímetros do coração humano.
— Como você não cumpriu sua parte do nosso contrato – murmurou, com desprezo –, tive de fazer o que você não fez.
E entregou à arma a André antes de desaparecer no vazio.
Atônito, ele demorou a entender o óbvio. Todos agora estavam mortos: o chefe, os vizinhos, a esposa, os filhos...
Um calafrio lhe mostrou o final da história. Era ele quem segurava a arma do crime.
— Parado, polícia! – gritou um dos homens que invadiram o hall do prédio na Avenida Rio Branco.

(...)

Rio de Janeiro, 21 de janeiro de 2009.

Um minuto para meia-noite do dia seguinte...
Uma forte chuva com relâmpagos rasantes naquele lugar escuro. Um porão imundo, numa casa abandonada.
Sem dinheiro para alimentar o vício em drogas, André só alimentava o ódio mais profundo. Queria ver sangue. Muito sangue mesmo. Queria que aquela vagabunda da ex-esposa implorasse pela vida miserável dela. Queria arrancar um a um os dentes daquele sorrisinho de satisfação do ex-chefe. Queria que os vizinhos esnobes do prédio onde morava, antes de ser despejado pelo excesso de dívidas, tivessem a pior das mortes. E os próprios filhos, então, que o desprezavam abertamente? Queria que eles...
— Olá – disse uma voz ao seu lado. Pertencia a uma mulher loira e magra, de olhos azuis, cabelos à altura dos ombros. – Conheço alguém que pode ajudar você.

Depois que este conto estiver em grande nível, postarei a continuação e final onde a perseguição a André continuará. O contrato 2, versão totalmente original e inédita!

E em breve não percam o meu livro solo, Portal das Trevas- O Inicio do Poder.
A cada missão o perigo aumenta e alguns personagens que estão nesta intrigante missão não sabem o que realmente terão que enfrentar.
Desvende você este mistério!
Abraços a todos! Desejo sucesso a todos os escritores!
Agradeço a atenção e boa leitura!